A repressão ao instinto sexual e suas consequências

Freud alegava que boa parte dos transtornos mentais da idade adulta têm origem em distúrbios sexuais, e ainda que um parcela significativa, oriundas na infância e/ou adolescência. Ontem, li um artigo no blog da Fátima Jacinto, sobre as máscaras da personalidade, assumidas pelos adultos, e com início na infância. Segundo ela, para que não sofra rejeição e receba o amor de seus pais, a criança tende a mascarar sua vulnerabilidade através de um comportamento que seja “aceitável” àqueles de quem esperam proteção e aprovação. Isso implica que, no caso de um comportamento, que na infância é despido de “pecado”, mas não aos olhos dos adultos, a criança prefira esconder suas inclinações, sejam elas de que ordem for, através de uma postura “aceitável”, porém de renúncia de seus instintos. Então, a repressão, o abafamento dos instintos sexuais, ainda que em estado incipiente, se originaria na infância.

Eu concordo, quando se diz que Freud não deveria levar tudo a ferro e fogo. Acho, como ela, que nem todos os problemas mentais têm fundo sexual. Mas afirmo que o instinto sexual é a força mais poderosa da psique humana, mais até do que o instinto de sobrevivência. O instinto de sobrevivência nos arrebata igualmente como o sexual, porém o sexual vai mais além. No afã e no delírio do desejo sexual, não nos importaríamos de morrer ali, se nos fosse possível escolher.

Em uma situação de perigo, de vida ou aniquilação, ainda que a coragem seja um vetor poderoso para que tentemos até o fim nos salvarmos, há a tristeza. É a tristeza de saber que somos essencialmente egoístas, e que faríamos qualquer coisa para nos salvar, mas não para salvar o outro. Pelo menos, não sempre. No instinto de sobrevivência não há o Amor, pois que o Amor exige a transcendência do medo, e isso implica uma renúncia suprema e última do que é seu pelo que é do outro. No ato sexual (não o simplista ato de copular, mas o desejo de perpetuação), nos congregamos tanto com o outro corpo, e o desejo de nos fundirmos no Amor é tão grande, que morreríamos felizes, sem remorsos, se esse fosse o preço de uma união completa dos corpos e das almas. Esse é o gozo, o prazer, e ao mesmo tempo a tristeza, pois vemos que não morremos naquela hora. Viveremos novamente a separação dos corpos, sem que o objetivo de união fosse atingido.

O instinto sexual é basicamente “natural”. O que quero dizer que independe de nossa vontade. Ele está presente como potência do corpo material do qual nossa alma se reveste. Ele é o animal que nos estimula, inconscientemente, a nos perpetuar e livremente nos dissolvermos no outro corpo. É a procriação (diferente do conceito católico), que busca criar incessantemente, sem contudo nos exigir a geração de outro corpo, ainda que isso fosse “natural”. Dizemos fazer sexo por prazer simplesmente porque temos consciência dessas sensações. Podemos descrevê-las e, disso, gerar mais prazer.

 

 

Não se pode renegar que vivemos em um corpo animal. Não se pode negligenciar e deixar de cuidar desse corpo animal, impunemente, sem sofrer as repreensões e revoltas desse mesmo corpo, dessa mesma força. Não se trata aqui de apologia à liberação sexual, ou então, libertinagem ou estímulo à orgia. Mas a auto-determinação e a liberdade de opção em termos de sexualidade é fundamental para que um ser humano caminhe seguro pela vida. Um ser humano seguro é aquele que consegue viver harmoniosamente no mundo, e transitar livremente entre seu corpo e sua mente sem conflitos muito graves.

A repressão, por parte dos pais, das religiões e da sociedade, em forma de tabus e estereótipos, aos instintos de uma pessoa, assim como o é com suas crenças mais íntimas, é uma violência terrível, tanto quanto o é o medo da morte e da fome. A personalidade verdadeira da pessoa vai afundando, mais e mais, para um lado remoto da mente, ficando camuflada por máscaras que satisfaçam as vontades alheias. Esse é, portanto, um ser humano escravo das circunstâncias. O dia em que essa máscara de convenções e atitudes superficiais se desfaz, irrompe, furiosa, a fera aprisionada, que exige liberdade, e devolve em excessos, ainda mais crassos, as opressões que o mundo lhe impôs.

Respostas

  1. Avatar de Mundo das Poesias

    Olá caro Amigo Ebrael!

    Acho muito importante abordar este tema, realmente Freud está certo pelo menos em parte, os distúrbios sexuais atrapalham muito nossa vida.

    Acho que a grande culpada de muitos dos transtornos da sociedade, inclusive este é a religião.

    Grande Abraço Amigo!

    Lauro Daniel

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    1. Avatar de Ebrael Shaddai

      Lauro,

      Não tenho dúvida alguma que algumas regras anti-naturais das religiões são responsáveis pelo agravamento do estado de ignorância das pessoas, fazendo com que suas mentes supervalorizem o que é errado, pois chamam mais atenção para isso. Quando a represa não aguenta, aí as águas das sensações reprimidas inundam e devastam tudo a sua frente. Aí pode não haver mais jeito!!

      Abçs!!

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    2. Avatar de Soares Vieira Ilma

      Concordo com o senhor. o que tem de mulheres e homens religiosos com a sexualidade reprimida . A gente percebe nas atitudes.
      E não é só a Igreja. O sistema capitalista separa as pessoas para que elas não se amem.

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  2. Avatar de Mundo das Poesias

    Ebrael,

    Exatamente, brilhante sua resposta, foi até poético, até nas respostas você escreve em poesia…kkk

    Abraços amigo!

    Lauro Daniel

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    1. Avatar de Ebrael Shaddai

      kkkkkkkkkkk nem sempre usar metáforas pode soar gentil e poético…kkkkkk

      Abçs tbm!

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  3. Avatar de fabianalaurentino

    como saber se uma mulher é hiperativa sexual ou o parceiro que é frigido?

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    1. Avatar de Ebrael Shaddai

      OI Fabiana!
      Em primeiro lugar, antes de pensar em disfunção sexual, você deve perguntar ou saber se o outro ainda te deseja. Mas tem que ser num papo franco. Há que se saber se ela passa por algum stress ou trauma auto-bloqueador. Ou seja, épreciso analisar uma série de possibilidades que somente um terapeuta, psicólogo ou até um psiquiatra especializado em ninfomania é capaz de verificar.
      Te recomendo também um outro artigo meu: http://wp.me/pwUpj-bT
      Bjs e até mais!

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  4. Avatar de Lara

    Mas Ebrael, esse tema sempre me intrigou, será sempre essa luta constante entre o Id e o Superego que causa tanta angústia não tem solução. Por exemplo, se os relacionamentos fossem abertos, pode ser um caminho? (claro isso em um mundo fictício sem a religião tradicional e sem a ideia de propriedade)

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    1. Avatar de Ebrael Shaddai

      Minha posição neste artigo não é apologia à libertinagem. Me desculpe, mas na minha opinião não há relacionamento aberto válido, pois todo relacionamento terá algum nível de compromisso (ou comprometimento). Um relacionamento aberto é algo vazio no sentido de compromisso, pois não cria os laços necessários para satisfazer uma das necessidades básicas do ser humano: a segurança!

      Se já nos relacionamentos fechados, não podemos garantir com 100% de certeza que o outro não está a nos usar para fins sexuais ou outros, menos nobres, quanto menos poderemos assegurar a pureza de sentimentos em relações sem vínculos…

      Com ou sem religião no meio, o que prego é que o sexo seja descriminalizado. O sexo não tem nada de pecado; este reside, unicamente, nas intenções e condições em que é praticado. Toda forma de prazer é válido, quando buscamos o prazer não unicamente pra si mesmo, e sim para o parceiro, numa entrega SAGRADA.

      A repressão sexual dos meninos afeminados, com tendências homossexuais, das lésbicas, das mulheres islâmicas e das freiras em conventos-casernas engloba situações que me apavoram e me revoltam muito, até hoje. Conheço histórias de pessoas que já foram próximas a mim que são de arrepiar por um lado, e nojentas por outro.

      Sobre o ID e o SuperEgo: O Id não deve vencer, pois ele traz todo o Lixo do Inconsciente Coletivo junto com as experiências. Ele não filtra, nem sabe o que é bom ou mal. Ele não é imoral, ele é A-MORAL. Por isso é perigoso. O SuperEgo tem de dominar, pois ele é o dono de nosso Caminho Individual, o símbolo do Cristo em nós. A luta acaba quando você admite que sozinho (o Ego) não dá de lutar e ficar entre os dois que combatem. Escolha um deles e assuma seu destino por sua escolha. Ou vai rumar ao sexo seguro e fiel, ou à libertinagem. Depois de escolher o que quer, aí sim vem a Paz de ter escolhido e não ter ficado encima do muro, desejando o Céu do meio das chamas do Inferno.

      Um abço! Pode me add no MSN ou mandar email, tá no perfil na barra lateral.

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      1. Avatar de Lara

        Adorei essa ideia de “escolha seu caminho e siga”. Porque realmente ficar no meio é onde a maioria de nós está, daí vem o mal-estar da humanidade. Por mais que o SuperEgo muitas vezes seja antinatural (como você disse naqueles casos extremos) por outro o Id é “anti social”. E o homem sendo um ser social deve saber abrir mão da liberdade absoluta em prol da segurança, que num primeiro plano é individual mas num plano maior se refere à segurança do que se chama de civilização. Gostei da conversa. Abraço.

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      2. Avatar de Ebrael Shaddai

        Deu pra ver que vc me entendeu muito bem! É bem por aí… Aparece aí para outros papos, polêmica é o que não falta nesse blog kkkk…
        Um abraço também!

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  5. Avatar de Bismarck Afonso Ribeiro

    Excelente o texto, de grande relevancia pra nosso aprendizado, encontrei o que buscava, grato pela informacao adquirida.

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  6. Avatar de Susana Waszak

    Ôh, escritor por pura pretensão, de onde tira estas ideias… fántástico! Fecho com sua visão, e eu que pensava que era a única louca, isto porque estes pensamentos são para aqueles que pensam um pouquinho além…

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    1. Avatar de Júlio César Coelho (Ebrael)

      Se escrever fosse realmente algo corriqueiro, as pessoas abririam menos a boca para soltarem impropérios e aperfeiçoariam sua forma de pensar. Não é mesmo? Brindemos à Arte!

      Obrigado pela ilustre visita! 😀

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  7. Avatar de Soares Vieira Ilma

    Por que que com todo o liberalismo sexual as pessoas continuam reprimidas sexualmente?

    Curtido por 1 pessoa

  8. Avatar de Claudio

    Vivo num namoro tumultuado. Ela só se ocupa em dedicar a vida à família que vive com problemas. É um familiar que vive doente e ela sente o dever de ajudar, é o tio que está com outro problema, e assim por diante. Ano a ano é a mesma coisa. E ela não mostra tanto interesse sexual. A ausência prolongada de ejaculação está me adoecendo psicologicamente. Tenho vergonha de ir a um médico, porque não sei se ele vai rir da minha cara. Já tive decepções com médicos. Parece que eles, assim como a maior parte das pessoas, atribui a questão sexual a piadas, a risos. Não levam na seriedade. Menosprezam e minimizam o problema.

    Ela diz que me ama e vice-versa, mas está horrível. Não sei se está na hora de procurar uma amante de forma a aguentar ou buscar outra namorada, sendo que não vou conseguir esquecer a que tenho.

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    1. Avatar de Júlio [Ebrael]

      Já bateu a real com ela? Quero perguntar: já abriu o jogo? É ela que você tem de saber se vai minimizar, ou não, seu problema, não os médicos. Se ela não te apoiar, desapega e caia fora, sem olhar para trás. Quem vive de passado, é museu. Não importa há quanto tempo vocês namoram, não te aconselharia a basear suas decisões sobre momentos presentes em lembranças boas como se fossem patrimônio.

      Outra coisa: namoram há quantos anos? Namoros não devem durar muitos anos, senão se tornam jardins de infância, em que ambos adiam a passagem para um estágio mais sério da vida.

      Procurar amante só resolve o seu problema sexual, enquanto exclui sua namorada de metade da sua rotina, além de falsificar a outra metade (com ela). Não é apenas antiético para com ela, mas também contraproducente, te colocando em mais um foco de tensão, o que vai tornar o sexo casual num vício, além de te arrastar para um corredor interminável de remorsos e conflitos. Se não quer mais as coisas do jeito que estão, seja homem e fale a ela. É moleque imaturo que costuma fazer as coisas às escondidas.

      Mulheres querem (embora elas pareçam não querer) homens que sabem o que querem, digam o que querem e que sejam seguros. Isso inspira mais confiabilidade do que fazer parecer tudo certo, o tempo todo.

      Espero ter te ajudado. Um abraço!

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