Abaixo, um trecho extraído do livro Kabbalah Denudata (A Kabbalah Revelada), de Knorr Von Rosenroth, traduzida e comentada por Samuel Liddel McGregor Mathers. Este livro tem por base fiel o cânon cabalístico Sépher HaZohar (Livro do Esplendor), que continua o relato de como todo o Universo foi criado (iniciado no Sépher Yetzirah – Livro da Formação), explicando, nos mínimos detalhes, cada símbolo contido nas Escrituras Hebraicas com relação à Criação.
O trecho que cito fala, explicitamente, do ser angélico a que nós, cristãos, chamamos Satã ou Satanás (do hebr. Satan, “Acusador”, “Oponente”), aquele mesmo citado como a Antiga Serpente ou Dragão de sete cabeças.
Nota: As Sephiroth [em hebr., plural de Sephirah, “Esfera”], em número de 10, são as emanações do Eterno sob as quais, segundo os ensinamentos da Torah, se estrutura toda a Obra Divina, desde um simples átomo, passando por galáxias e transcendendo, no espaço-tempo, aos primórdios da Manifestação do Espírito (que é a origem do Mundo Material). Seus nomes, em ordem de Manifestação, são:
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Kether [Coroa], Chokhmah [Sabedoria] e Binah [Entendimento] – estas três formando a primeira e Suprema Trindade, também chamada de Macroprosopus [Grande Rosto, o Rei];
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Chesed [Misericórdia], G’vurah [Rigor, Força], Thiphereth [Beleza, o Coração da Criação, a esfera Crística], Netzach [Triunfo], Hod [Esplendor] e Yesod [Fundamento] – estas, formando o que chamam de Microprosopus [o Pequeno Rosto, o Noivo ou o Filho]; e
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Malkhuth [o Reino] – esta configurando o Mundo Físico, dos 4 elementos, onde reinam os 5 sentidos, palco da batalha entre o Dragão e o Cristo. Também é a sede da Shekhinah, a Divina Presença [ou Espírito Santo] que renova todas as coisas e determina o curso dos acontecimentos. Malkhuth é onde está a Noiva [ou Rainha, Mãe Inferior], que não se aplica apenas à Igreja, mas a toda a humanidade, pois o Cristo veio a todos, ainda que primeiro aos Israelitas. Chegarão tempos em que o Cristo, na qualidade de Noivo, virá resgatar a sua Noiva.
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(Julgar e perdoar são termos opostos, já que ao lado do juízo encontra-se a execução do mesmo, o que significa a destruição. Enquanto que, ao lado do perdão, encontra-se a salvação.)
24. E, ao final do Vazio, do Informe e da Escuridão (isto é, ao final do exílio que, como está anunciado, algum dia chegará: Isaias 2:11), nesse dia, o Tetragrammaton será exaltado (esse dia será no tempo do Messias).
(O Tetragrammaton, ou Divino Nome de quatro letras, IHVH, Jehovah, é inominável, compreende por completo as dez Sephiroth e, consequentemente, expressa suas três trindades de força equilibrada. Portanto, quando o Tetragrammaton aparece, o vazio, o informe e as sombras desaparecem, dando lugar à Sua forma, Sua plenitude e Sua Luz, que inundam tudo.)
25. Mas essas são escavações de escavações (a escavação é o receptáculo, que é como uma fossa que se tenha preparado, como uma cova ou qualquer outro lugar que sirva como receptáculo. Por outro lado, todos os receptáculos são inferiores em relação aos superiores e são onde os “invólucros” se encontram em último lugar, os quais estão aqui descritos tal como são), sub a forma de uma vasta serpente estendendo-se de um e de outro lado. (Em relação a essa serpente, o autor de Vale Real nos fala extensivamente do conceito em seu anexo “Tratado dos Invólucros”. Os fragmentos dos receptáculos, que vêm a cair no mundo da Criação, da Formação e da Ação, manifestam-se no exterior; os juízos são mais consoantes àqueles que são chamados profanos e que têm seu habitat na metade do espaço que se encontra entre o Sagrado e o Ímpio. E, da cabeça formada pelo grande dragão ‒ que se encontra no mar e que não é nada mais do que a serpente marinha e, portanto, absolutamente melhor que a serpente terrestre ou o mais grosseiro e profano dos invólucros ‒, estende-se de um lado a outro. Esse dragão teve de ser castrado junto com o seu par, e dessa repreensão nasceram 400 mundos do desejo. E esse dragão tem na sua cabeça uma cavidade (parecida com a que têm as baleias), pela qual emana e recebe influência e que contém todos os demais dragões. Acerca disso, está escrito: “Tu, que rompeste as cabeças dos dragões sobre as águas” (Salmos 74:13). Dessa maneira, a ideia da forma universal, que contém todos os invólucros, é compreendida. Esses invólucros estão compassados com as sete emanações inferiores da Rainha, depois da ingerência de uma Serpente, que se move para a direita, para a esquerda e por todos os lados.
(A escavação ou receptáculo de uma Sephirah é aquela qualidade que recebe constantemente da influência suprema, da Sephirah que a precede imediatamente. Por isso, cada Sephirah tem uma dupla qualidade de recepção e de transmissão, que passa através dos quatro mundos [arquétipo, criativo, formativo e material]. As Sephiroth existem em cada um deles, e a luz que recebem de cada Sephirah diminui gradualmente (ver a próxima tabela). Os “invólucros” – Qlipoth – são os demônios ‒ nos quais também se encontram as Sephiroth ‒, mas distorcidos e adversos. Esse grande dragão que aqui se descreve é evidentemente idêntico ao Leviatã de 36. Ele é o executor do juízo, a força centrípeta, a velha serpente que está sempre à espera da menor oportunidade para introduzir-se no Paraíso. Finalmente, de um ponto de vista mais esotérico, ele é o Satã, o Diabo, o acusador. No Sepher Yetzirah, um dos mais importantes livros cabalísticos, o dragão é chamado Theli, THLI. Por Gematria, THLI = 400 + 30 + 10 = 440. E se “rompemos sua cabeça”, por exemplo, suprimindo a primeira letra, Tau, TH = 400, nos restará apenas LI = 40 = M, Men, a água. Os “400 mundos do desejo” são o valor numérico de TH e significam o poder do Tetragrammaton no plano material. Existe uma ampla simbologia alquímica contida no Siphra Dtzenioutha. As “Sete Emanações Inferiores” da Rainha são as Sete Sephiroth Inferiores: Chesed, Geburah, Thiphereth, Netzach,
Hod, Yesod e Malkuth; ou o Microprosopo e seu par, o Rei e a Rainha. Os “invólucros” – Qliphoth – são os espíritos maléficos.)
26. Seu rabo está em sua cabeça (ou seja, tem o rabo entre suas mandíbulas, formando um círculo com seu corpo, tentando imitar, com isso, o Sagrado). Ele retrai sua cabeça sobre os ombros (isto é, assoma sua cabeça por cima dos ombros da Mulher do Microprosopo, o lugar onde se assentam os mais severos juízos) e é desprezado (e, como nele se assentam extremamente os juízos e severidades, ele monta em ira, que é um dos atributos de suas formas). Ele observa e, além disso, mantém-se em estreita vigilância, esperando encontrar uma abertura por onde possa entrar na glória. Ele é secreto (como suas armadilhas e suas mentiras, com as quais, por intermédio de seus enganosos estratagemas, busca insinuar-se aos inferiores, já que por meio dos pecados ele tem acesso aos graus sagrados, ao descarregar sobre os outros os juízos que há contra ele e que o condenaram eternamente).
27. Existem inchaços [como escamas] em suas escalas (isto é, igual a um crocodilo; pois o bom nele é que os juízos se vejam abarrotados de gente, ou que os juízos sejam simultâneos). Sua crista encontra-se escondida em seu próprio lugar (por esta razão, não existe nele o poder de reproduzir-se e de manifestar-se no exterior). (Ele se encontra na destruição e não “se manifesta no exterior”, pois é a força centrípeta, e não a centrífuga.)
28. Mas sua cabeça está quebrada pelas águas do grande mar. (O grande mar é a sabedoria, é a fonte do perdão, do amor e da bondade; que, caso estenda sua influência aos juízos, faz com que estes sejam pacíficos e o poder destrutivo dos invólucros fique restrito); como foi escrito em Salmos 74:13: “Tu, que rompeste as cabeças dos dragões pelas águas”. (“As águas do grande mar” são a influência da Mãe Suprema, Binah, de quem Malkuth [mundo físico] é só um reflexo; enquanto Binah recebe a influência de Chokmah, o Pai, já que ele corresponde à segunda Sephirah, e ela, à terceira.)
29. Eles são dois (macho e fêmea, como no texto do salmo, em que se fala os dragões em forma plural; pois, quando se utiliza o plural em sua forma menor, refere-se apenas a dois dragões, e não ao total de seu conjunto). E eles são reduzidos a apenas um (para a fêmea do Leviatã, reserva-se a suja tarefa da injúria e da calúnia, meio pelo qual tratam de aumentar os juízos). Em que a palavra THNINM, Thenanim (na passagem do salmo mencionada anteriormente), está escrita de maneira incorreta (de propósito, para indicar tal restrição). (Devo aconselhar ao leitor que, para obter mais referências acerca do Leviatã, deverá consultar o Talmud Hebraico, já que nele se encontra melhor plasmada a ideia judaica a esse respeito. A palavra Thenanim está escrita de forma incorreta, pois a letra I do plural IM é suprimida ou omitida. A forma correta é THNINIM, e não THNINM).
30. (Mas se disse) cabeças (no plural, com o propósito de indicar uma vasta multidão de espécies, classes e individualidades de gênios e demônios); como está escrito em Ezequiel 1:22: “E algo parecido a um firmamento se encontra acima das cabeças das criaturas viventes”. (Neste caso, a expressão “criaturas viventes” também é colocada no singular, “criatura vivente”, CHIH, Chaiah [e não Chaioth, como seria no plural], para denotar a espécie, gênio ou anjo; e cabeças, para destacar em forma plural as inúmeras individualidades das mesmas.) (“Tu rompeste as cabeças dos dragões [Thenanim] pelas águas.” Essa frase nos lembra aquele dragão do qual falava o autor de Vale Real, que deveria ser o Rei dos “invólucros” ou demônios. Bem, os demônios estão divididos em dez classes, correspondendo às dez Sephiroth, mas de uma forma imperfeita e adversa, e são denominados, no livro Beth Elohim, as “Sephiroth Impuras”. As cabeças do Leviatã [as Serpentes ou Cobras da Cabeça de Hidra, que Hércules degolou] provavelmente são estas. Compare a descrição da besta no Apocalipse.)
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