O mundo é um lugar inseguro, e os seres humanos, coletivos como são, tendem a ficar todos juntos, inclusive em termos de comportamento. Ter um comportamento “diferente” do dos demais pode significar ser alvo de predadores ou dos “donos” da “tribo”.
Ousar saber, conhecer mais, é um perigo. Para isso, é preciso não apenas caminhar, por vezes só, pela caverna úmida e escura (como no conhecido mito de Platão), mas também deixar “pai e mãe”, o conforto e a proteção do convívio social, ainda que nas “trevas”. Uma das coisas que perseguem e atemorizam o “animal” humano é o risco de morrer por nada e – pior – morrer sozinho.
É por isso que as pessoas não ousam destoar do modo de viver da coletividade onde estão inseridos. E, quando o fazem, isto acontece sempre em segredo, como fosse ignomínia detestável, um “pecado”. Mas, há pecado maior do que crer-se melhor ao destoar do coletivo, como um Rei sem coroa? E mais: como um Rei-filósofo, sem coroa e sem a Razão?
Ousar seguir um caminho diferente implica, sim, em trilhar uma via solitária. Mas, só será frutífera se com os pés no chão da Caverna, sem pensar em atalhos. O que move um visionário não é o afã por fama, essa sempre diluída pelo usufruto coletivo, pelo sarcasmo dos medíocres e pela degeneração que nos acometem ao longo do Tempo. O que o tira do sossego ocioso é a insatisfação, a dúvida. E essa nunca é satisfeita (como cada uma das serpentes da Hidra) e, portanto, nunca há vitórias definitivas a serem comemoradas, nunca uma Verdade a ser proclamada, a não ser que o mesmo Sol a se revele a nós do lado de fora da Caverna.
Após ter a Luz lhe resplandecido a face, o caminho é ainda mais solitário. O caminho de volta, o da avaliação, da acomodação da Luz à retina diante da percepção das trevas, é o mais aterrador. Pois, se as dúvidas nas “Trevas” eram tais, aquelas depois da “Luz” serão outras. E essas últimas jamais serão respondidas no retorno às Trevas, mas no contraste da íris sempre negra de cada um seus semelhantes, em contraste com sua memória da Luz.
O medo, a reação hostil que as pessoas têm diante de uma tal revelação que faça desmoronar a caverna sobre si, é resultado não da “suposta” Luz, ou seus efeitos, pois não se tem medo do que não se sabe existir. Têm-se medo do que pode vir de dentro da mesma Caverna (mas que ainda não se concebe) e nos tire do conforto, da segurança de uma masmorra úmida de limitações, de um estábulo insalubre em que nos acostumamos à chuva e ao tempo por mero conformismo.
Ficamos juntos, não nos arriscamos. Morremos abraçados no umbral de nosso reduto assombrado. Nossa mediocridade nos leva a sucumbir todos misturados, e paradoxalmente sós. Agarrados uns aos outros até na burrice, na escuridão de um mundo monocromático, sem cores, sem cheiros. Essa é a tal Alma do Mundo, o Inconsciente Coletivo, um depósito de esperanças adormecidas, mas guardado por três capatazes tirânicos, – a saber – o Medo, a Fúria e o Caos.
Muito bom este texto! Uma advertência aos comodistas (infelizmente a maioria). Nele fica bem claro o porquê tão poucos se importam com o SE CONHECER. SE CONHECER é o maior empreendimento neste mundo terreno e, por isso, só estão habilitados os CORAJOSOS! GRANDE ABRAÇO, Ebrael! 😀
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Bem, Nágea, nesse assunto eu alivio mais a mão, pois vejo que esse padrão de comportamento humano – a tendência a permanecer em grupos – é instintivo. E, convenhamos, é praticamente impossível vivermos sem o instinto.
Mas, claro, ainda bem que a Providência Divina seleciona alguns poucos corajosos para sair da Caverna e trazer a Luz do Sol aos habitantes do Umbral terreno, ainda que sob risco de incompreensão e martírio.
Um abração e ótima semana! 😀
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