Sei que muitos dos leitores não entenderão a razão desse “sonho” do qual falarei. Até mesmo poderão rirem-se dele. Mas, principalmente, alguns sonhadores “malucos” aqui se identificarão comigo. Como milhões de crianças e adolescentes dos anos 80 e 90, eu sonhava em ser astronauta. Não é que os adultos não entendam esses sonhos de crianças; simplesmente, eles sabem que, até a consecução de um sonho, há milhas e milhas em dificuldades, quedas e recomeços. Em muitos casos, levantamos e mudamos de caminho. Adotamos sonhos mais sóbrios.
Claro, eu sonhava em acordar em outro planeta, e não acho que isso era impossível nem tampouco bisonho. As leis das analogias sempre aí estão para confortar os sonhadores puxados de volta para a Terra pela gravidade das obrigações e pela força coletiva, tão protetora como autoritária. Acordar em um outro planeta é como despertar em uma nova casa. Novas texturas, temperatura, novo chão e ar. Novas e mais difíceis contingências. No entanto, se mudar de casa na Terra nos exige não muitos dias de adaptação à vizinhança e um pouco de diplomacia, a vizinhança de uma casa fora da Terra exige mais que isso: a confrontação de nossa coragem com nossos medos, o senso de responsabilidade para com a nova “casa” e um espírito de fundamental solidariedade com seus companheiros de viagem.
A Terra, como nossa casa, mãe, amante, é, então, deixada para trás não por a amarmos menos, mas por querer aquela saudade impossível, aquele Amor perfeito, ideal, filosófico, conforme o mesmo Sócrates descrevia o Amor pela Sabedoria. Amar a Sabedoria é desejar ardentemente possuí-la, sem jamais conseguir isso. O Amor por nossa primeira “Casa”, contemplado de outra Casa, é ainda mais perfeito, redentor e transformador.
Esse — creio eu — é um dos aspectos do meu sonho que reluz no sonho que compartilhou Bas Lansdorp com o mundo quando fundou o Mars One Project, uma iniciativa de cooperação com várias entidades privadas que pretende levar seres humanos, pela primeira vez, a construir um ambiente habitável fora do planeta Terra, para muito além da Lua. Ele sonhara, como eu, com uma nova “casa” permanente para a humanidade em Marte. Esse projeto se baseia em premissas e iniciativas perfeitamente (e cientificamente) possíveis de serem colocadas em prática. E, isso tudo, daqui a nove anos, em 2023.
Vamos apoiar? Como diz o slogan do Mars One, este será, queiram ou não, creiam ou não, “o próximo grande salto para a humanidade”.
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