(*) Sobre a Modéstia ou Sobriedade.
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Modestus: aquele que tem bons modos, que sabe se compor em ambiente público ou privado.
Sobrius: aquele que é sóbrio, sisudo, sério, que não é dado a extravagâncias.
Esse segundo termo, pesquisando-o e decompondo-o, vi que tinha relação com subrídere (sub+rídere), “rir pouco, rir de forma modesta”. Logo, uma pessoa sóbria é, primeiramente, alguém que sabe rir e, por extensão, não busca a satisfação da sua própria vaidade.
Muito mais brilha a pessoa que se abstém da vaidade, pois sua beleza ou brilho são despojados do excesso, das máscaras. Acaso, se os espinhos da rosa fossem de ouro, faria alguma diferença? Claro que sim, mas apenas aos que buscam pelo ouro, não pela rosa, sua formosura e perfume inebriantes.
Há, no entanto e também, o contrário da extravagância dos enfeites, a saber, o cinismo. O termo cinismo vem do grego kynós, que se refere ao cachorro. “Cinismo é o orgulho de ser despojado como um cão de rua, até mesmo miserável e, portanto, pretensamente mais perfeito do que os vaidosos.” Essa é a vaidade por parecer feio, pobre, a falsa virtude cínica. É a manifestação mais emblemática da hipocrisia, sobre a qual já dissertei aqui.
A boa classe dos bons modos aristocráticos, acaso, é algo detestável? Sim, o é, para os “cães” medíocres que se apegam à sua condição ainda imperfeita. Como é reconfortante, por exemplo, surpreender uma senhora tapando a boca ao bocejar de sono, mesmo sem a presença de alguém por perto!
A humildade é uma das manifestações da modéstia. No latim, humildade se escreve humílitas. Qualidade daquele que, não necessariamente está no chão, mas que não busca elevar-se acima de todos. E, por que não? Porque o Sol nasce para todos e, como costuma-se citar o Eclesiastes, nihil novi sub sole (“não há nada de novo sob o Sol”). Quando todos se elevam, os que não buscam esse caminho de vida é que se destacam. Logo, se tornam invejados por sua “mania” de humildade, são acusados de hipócritas. No entanto, se o humilde não alardeia sua humildade (algo evidente), como acusá-los de serem cínicos? O humilde não quer ser um “cão”; ele, apenas, não os despreza, sejam eles cães com pedigree ou que chafurdam nas latas de lixo.

“A modéstia é singela e sóbria. Aliás, é singela porque é sóbria.” O adjetivo singelo, em latim, tem um significado muito próximo a castus. Um sorriso sóbrio, sem alardes, já denota a castidade dos sentimentos, a suavidade e o cuidado com aqueles a quem devemos respeito e reverência. O sorriso casto não busca conquistar amizades ou a simpatia de quem quer que seja, mas tão-somente levar alegria e/ou bálsamo lenitivo aos que necessitam.
O sorriso casto é um remédio; o extravagante é uma pedra de tropeço e de perdição para olhos sedentos e viciados. Daí é que devemos sempre manter o subrisus (origem de “sóbrio”, um sorriso suave) em foco, ao invés de extravagantes e lascivos, para que não nos tornemos, cedo ou tarde, em seres ridículi (motivo de risos do público).
Perché conosco quel sorriso, di chi ha giá deciso. Quel sorriso giá una volta mi ha aperto il paradiso.
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