“Se ele pudesse, ele a mataria com as próprias mãos”. Foi o que pensei após lembrar das poucas cenas daquele pesadelo, tão real como imediato. Porém, aquele ser, carregando uma personalidade deformada, necessita da mão de outrem, de modo a conseguir, por atos e omissões, realizar seus intentos de ódio irracional.
“Vagabunda, vadia! Eu te mato! Eu não acredito em você”. Chacoalhando o corpo do pobre diabo, aquele lixo astral em evolução pensa que tudo pode e assombra os sonhos do visionário inconsequente. Até poderia causar-lhe mais dano, se não fossem os Anjos de Guarda que, há anos, zelam pela vida do coitado. Miguel, o Príncipe dos Rostos, a quem ele jamais atingiria e contra o qual a Besta rosna furiosa, guarda a ambos, ao caniço que acha que resiste a tudo e a ela, que resiste a tudo por aquele caniço que balança ao vento. Quando avança além do quinhão que lhe é devido, a Besta tem seus dentes refreados e cede à Força da Lei e da Misericórdia.
Por mais inteligente que seja um ser dito racional, ele perde a Razão quando aquele se orienta não mais ao Bem, senão a destruir tudo em volta de si e dos outros. Sim, a Razão conserva. Somente a ausência dela (ou seja, o Caos) é capaz de destruir qualquer coisa. Usa seu poder para perverter o poder do outro. Usa sua liberdade para confiscar a liberdade alheia, tal qual fosse supremo juiz, sempre vociferando contra aqueles que pensa lhe serem inferiores.
Aliás, tudo nos é inferior se olhamos a partir do chão e de ponta-cabeça. Tal é a inversão fundamental dos orgulhosos: o Céu é o inferno e a perfeita medida estará em manter o focinho ao nível da lama. Neste pormenor, até os morcegos, voadores cegos, porém bons de ouvido, são mais aptos que os orgulhosos cobradores.
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Memória guardada às 4:30 da manhã desta quinta-feira, 16 de abril de 2015, após violenta crise de hipoglicemia reativa durante o sono, devido a pesadelos assombrosos.
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