Considerações sobre o Karma


Mesmo tendo uma alma com raízes católicas, nunca me desliguei totalmente das reflexões sobre a Justiça e as Leis Universais que regem a Criação. No que toca, especificamente, à humanidade, escrevi recentemente sobre as tais Penas Eternas. Agora, me volto a pensar sobre as “penas pagas em prestações”, as quais são relacionadas ao que se chama Karma.

Karma é um termo sânscrito que significa “ação”*. Objetivamente, é o inteiro processo de ação e reação, causa e efeito, que regeria a inteira evolução da Criação, desde o mais ínfimo átomo às grandes galáxias. Em sentido estrito, refere-se ao suposto dispositivo infalível que daria a cada ser humano “segundo as suas obras”. É, não obstante seu uso indiscriminado no Ocidente, conceito antiquíssimo de religiões como o Hinduísmo, Budismo e Jainismo, bem como dos postulados do Espiritismo e da Teosofia.

Como demonstrei em postagem supracitada < https://ebrael.wordpress.com/2015/07/15/sobre-as-penas-eternas/ >, as doutrinas das Penas Eternas e de um inferno que não para de encher, a concentrar para sempre pessoas que cometeram crimes por alguns anos (que vão de furtos a genocídios), não é algo lá muito razoável. Se repugna e parece intragável até mesmo à mais insípida alma humana, o que não pareceria aos olhos dos Anjos, Santos e, mesmo, a Jesus? Bem, já expliquei, em diversas ocasiões, por quais motivos penso que Jesus jamais se referiu às penas como sendo eternas.

No entanto, a doutrina do Karma também se apresenta, aos meus olhos, com lacunas e problemas notáveis. Devo avisar que não sou mestre em coisa alguma, não pretendo ser e espero que as mentes afoitas sejam complacentes com este autor. Vou emitir opiniões pessoais e não admito censuras de fanáticos neste espaço, de qualquer espécie ou provenientes de onde quer que seja.

Cito, abaixo, a fala de Jesus mais usada por defensores da doutrina do Karma:

Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,
Deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta.
Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão.
Em verdade, te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil.

(Mateus 5,23-26)

Católicos argumentarão que Jesus falava literalmente, sobre assuntos da vida diária das pessoas na Terra. Mas, no entanto, ele adverte que a oferta a Deus não teria valor se a pessoa não se reconciliasse com aquele a quem tinha prejudicado. A oferta a Deus não o isentaria dos rigores da Justiça. Falava ele da “justiça” dos homens, que falha, se justamente ele havia depreciado a “justiça” de fariseus e escribas anteriormente? É óbvio que ele falava do destino das almas no Além-Vida, como extensão do que sofriam as almas nesta Terra.

Sugiro que o mesmo Purgatório católico é o conjunto de “prisões” a que são recolhidos os devedores das diversas categorias após suas mortes físicas. Não por decreto divino, mas como resultado do Karma. Se a palavra e o pensamento são ações, e podem constituir agressões contra outrem, eles devem deixar marcas na alma na qual se originam. De alguma forma, a energia que origina certos pensamentos e ações modula a vibração da alma, que nada mais é que massa sutil não visível aos olhos físicos pela baixa densidade. Após a morte física, almas com baixa vibração (alta densidade) acabam ficando restritas em dimensões próximas à nossa ou, dependendo do número de almas “cobradoras” que as estejam aguardando, são arrastadas para lugares sombrios onde satisfarão o desejo de vingança de outros.

Agressões contra o próprio corpo podem baixar a vibração da alma, mas constituem agressões principalmente ao corpo, tão-somente. As penas que a alma satisfaz, nesses casos, são apenas os incômodos de ter uma vibração baixa (pesada), isso se não cometer crimes enquanto isso. Assim, o que se faz ao corpo, paga-se no próprio corpo, pois o mesmo se tornará “pó” após a morte, retornando à Natureza. Somente as penas da alma paga-se no Além-Vida (Purgatório).

Outra coisa: a pena que Jesus cita não é “olho por olho, dente por dente”. Ou seja, não é uma compensação idêntica à ofensa sofrida pelo acusador, mas uma pena disciplinar, com pagamento de indenização, aplicada pelo Juiz. Isso pode significar que não seremos mortos em outra vida porque tenhamos matado alguém nesta existência, senão por provação, experiência disciplinar, como uma “multa” exemplar. O que tenhamos de pagar ou a quem, o faremos através da alma, no Além-Vida, logo após a morte física.

Após a satisfação da “justiça” da alma, a mesma é destruída, dissolve-se no “mar” astral, retornando o Princípio Espiritual à sua Fonte. A alma é um corpo de desejo, um veículo, um mediador entre o Espírito e a Matéria. Sem ela, o mesmo Espírito não conseguiria se manifestar na Matéria nem tomaria uma personalidade com as características astrais (segundo o Nascimento) que determinarão certas tendências pessoais. No entanto, não considero a alma imortal, sendo não mais que matéria sutil da mesma forma que a argila o é do tijolo. Quando o Espírito se desgarra, finalmente, da Alma que penava, então ele pode retornar à sua Origem ou formar outra alma quando é levado a se reaproximar da Terra.

Sobre o tal “véu do esquecimento”, segundo os espíritas, ser uma “bênção” para a alma penitente, disso não tenho dúvidas. No entanto, não creio que esse esquecimento se deva a essa “misericórdia divina”, propriamente. Penso que essa incapacidade de nos lembrarmos do passado ancestral se dê por alguma dificuldade genética, algum bloqueio no DNA, acidental, natural ou intencional (engendrado sabe-se lá por quem e quando). Sim, se a alma comanda o corpo, é óbvio que ela também se expressa nas instruções do DNA.

Se disséssemos que as almas que se lembram desse “passado” são as mais espiritualizadas, estaríamos descontando as pessoas “comuns”, sem tantas qualidades morais ou capacidades psíquicas. O que vemos, no entanto, é que pessoas de todas as classes podem chegar a ter lembranças de um passado ancestral. Poderíamos supor que essas pessoas, em algum momento da vida, têm certos “trechos” de seus DNAs desbloqueados para capacidades mais elevadas.

Por outro lado, apesar de achar que é mais confortável que não nos lembremos de dívidas e rixas ancestrais, também penso que é mais racional que as pessoas tenham que ter consciência dos seus atos para decidirem, livremente, pedir perdão e perdoar, cobrar ou reparar seus erros. Pagar sem saber o que se paga não satisfaz a absoluta ideia de Justiça inerente a Deus. Afinal, o Juiz, na parábola de Jesus, quando entrega ao oficial o sentenciado, o faz com este acordado, consciente, e assim permanece enquanto paga a pena.

[*] Leia mais: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carma.

Por Júlio [Ebrael]

Blogger, amateur writter, father of one. Originally Catholic, always Gnostic. Upwards to the Light, yet unclean. // Port.: Blogueiro, poeta amador, pai. Católico, casado. A caminho da Luz, mas sujo de lama.

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