O Fanatismo está, no senso comum, ligado às ideologias religiosas, na maioria das ocorrências em que é mencionado publicamente. Mas, será mesmo que a Religião é a origem do Fanatismo? Se sim, então, poderíamos dizer, acaso, que o fim do Fanatismo passa pela extinção das Religiões? Vejamos adiante.
A rigor:
O Fanatismo é um fenômeno social que contamina pessoas como vírus mentais, exacerbando paixões e tornando-as patológicas como transferências, a um terreno coletivo, dos ideais não realizados. Estes vírus se disseminam na forma de ideias imutáveis, às quais buscam assegurar que seus fundamentos superem as dissidências às tais ideias que possam surgir no seio de um grupo ou na coletividade onde este se encontre.
Portanto, o Fanatismo é um instrumento social de tomada de poder por uma elite “iluminada”, seja ela religiosa e/ou política. Como exemplo, podemos citar as ideologias por trás do Estado Islâmico e dos Estados comunistoides do século XX (que não passaram de experimentos sociais para futuro uso na Nova Ordem Mundial). Fanatismo não tem bandeira nem crença. É questão de exposição coletiva a um ódio contagioso irracional. E, nisso, ateus, agnósticos e religiosos se igualam na suscetibilidade ao “vírus” fanático. Afinal, comunistas genocidas eram antirreligiosos.
Aldous Huxley, em “Admirável Mundo Novo“, foi deveras competente ao mostrar que a rejeição a uma crença formava uma crença alternativa remendada tão ridícula e utópica quanto uma crença institucional, substituindo-a apenas na forma, mas não na loucura. Por isso, para mim, são igualmente patéticos esses movimentos puramente reativos às religiões, porque são baseados, também, em ideologias.
É notório que o autoconhecimento genuíno diminui a virulência do Fanatismo e o risco de assalto de seu vírus à mente do indivíduo. A integração dos aspectos sombrios da personalidade ao Eu Consciente torna as “sombras” passíveis de serem “iluminadas”. Isso poderia ser visto como a redenção dos “demônios” do indivíduo e o advento do Cristo interior ao Templo do Coração humano1, mas vai além, muito além. A educação formal condiciona, sim. Mas, o rompimento com a educação formal dá, às “sombras”, o governo da mente do indivíduo, que passa a buscar rejeitar tudo que é coletivo sem, no entanto, desvincular-se de seus inconvenientes.
É por isso que, tanto a rejeição do Céu ao Inferno, quanto a deste àquele, gera o Fanatismo, pois à medida que aperta o nó e a luta interior recrudesce, mais tensão e necessidade de tomar partido se torna necessária. Eu diria, mesmo, imprescindível. Como a lógica humana é binária (sim ou não, esse ou aquele, etc.) e não se pode “servir a dois senhores”2, o ser humano continua a ser escravo, seja no “Céu” ou no “Inferno”. Religião, como anti-ateísmo, e Ateísmo, como antirreligião, são equivalentes. Por mais que se digladiem os teóricos e defensores de um e outro partido, o resultado será o mesmo: a dissociação da personalidade e o eterno atraso da espécie sub-humana do planeta.
Como eu disse, a crença (ou ausência dela) é apenas um pretexto ridículo quando falamos da origem do Fanatismo. O que mata não é a Religião (ou a rejeição a ela), mas o ser humano bestializado e dissociado. Quando um ser humano chega a usar o raciocínio para matar seus semelhantes, temos que o Lobo usa a Vovózinha para devorar e violentar a menina do Chapéu Vermelho. E, mais, se o medo é o passe para a Salvação (iluminação) da Alma, então o Bom Pastor tornou-se parceiro do Lobo Mau3.
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NOTAS:
- 1 Vide: Em busca da Sublime Via. Artigo por Júlio César Coelho, in Ebrael. Publicado em: 25 de julho de 2015. Disponível em: < http://goo.gl/fgEu0C >.
- 2 Mateus VI, 24.
- 3 Vide: O Bom Pastor e o Lobo Mau. Artigo de Júlio César Coelho, in Central Matrix. Publicado em: 01 de maio de 2016. Disponível em: < http://goo.gl/mnucY9 >.
Sim, o fanatismo advém do desconhecimento de si mesmo, deixando o vivente à mercê da dualidade, desperdiçando uma vida inteira na variância entre o bem e o mal, por não enxergar nada além da matéria (visível e invisível).
Por isso, todo fanático é materialista, seja ateu ou religioso, acadêmico ou sem instrução, não conseguindo transcender, vivendo debaixo de um primarismo vergonhoso, como mero animal, escravo de tudo quanto é de material, por ignorar o que é SER RACIONAL, daí se confundir pensamento com raciocínio.
Quem raciocina, não mata.
Fanatismo é a expressão de um pensamento que não mede esforços, seja no bem ou no mal, para atingir seus objetivos. Fanatismo é IRRACIONAL!
PARABÉNS pelo texto! Abraços, Júlio!
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Perfeito, Nágea! Perfeito! 🙂 Obrigado pelas sábias palavras!
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