Daqueles que chamam o deus deste Mundo de Tributo, aprendemos que a Vida na Terra é um grande Mercado de trocas. Trocas de socos e beijos; comércio de valores e quinquilharias inúteis; intercâmbio de sensações.
Acaso, haveria algo de sagrado em meio a essa barganha diária entre os animais humanos e seus míticos criadores imaginários? Que há de superior na religião nutrida por nossos Corações?
Enquanto o animal humano não via diferença entre sua própria vida e a dos outros animais, ele oferecia a sua própria e/ou de seus semelhantes em sacrifício aos seus deuses, em troca de supostos favores temporários.
Quando seu contato com a Natureza foi enfraquecido e o apego ao mundo por ele construído foi se intensificando, ele não se entregava mais, nem pelos seus semelhantes nem aos seus numes. Ele havia se tornado mais importante aos seus próprios olhos. A Vida deveria ser, senão perpetuada, prorrogada, num frenesi louco para fugir à dor e à Morte. Outros seres vivos deveriam pagar pelos erros dos homens, deixando seu sangue escorrer em baixelas de prata.
Pouca gente, atualmente, é capaz de entender que, se é importante e sagrado o contato entre os deuses e seus tutelados humanos, ainda mais sagrada é a intercessão do ser humano por todos os seres humanos diante de seus mesmos deuses.
Os deuses manifestam forças inconscientes da Natureza da Terra e do Cosmos, mas também estão presentes na Essência constitutiva do Homem em forma de Arquétipos. Toda e qualquer forma inferior de vida tem seus reflexos superiores e divinos através desses Arquétipos. No ser humano, eles são expressos e trazidos à manifestação em suas formas mais puras se elevamos nosso personagem inferior (Ego) ao reino dos sentimentos sublimes, abnegados, os quais também chamo de heroicos.

Nenhum sacrifício humano, animal ou material (em forma de esmola ou benemerência) será plenamente eficaz e agradável aos deuses (forças do Inconsciente Coletivo) se isso não implicar em renúncia. A renúncia, aqui, não denota mera perda, mas transmutação de uma forma grosseira em uma outra mais refinada de existência, de pensamentos e sentimentos. Como diria sua S.S. Bento XVI, este é o grande Salto da Fé.
O Cristo era Rei, mas lavou o pé imundo dos seus discípulos; era Sacerdote, mas deu a si mesmo como vítima imolada, ao invés de tirar a vida de um animal ou de outro ser humano. Cristo era, segundo é crido, humano e inocente. Um cordeiro sem manchas também seria inocente. Ele poderia arrogar-se ser mais importante, ficar de mimimi e vociferar desculpas esfarrapadas para justificar o sacrifício de um outro inocente. Mas, não!
O verdadeiro sacerdócio (oferta sagrada) é a entrega de si mesmo no outro, pelo outro. Os deuses não querem comércio, mas misericórdia e Amor entre seus tutelados. O Reino dos Céus está em nós. Não apenas em mim, ou em você. Mas, em todos!
Nisto, resume-se a Arte Sagrada do contato com o Divino: no retorno a si mesmo. Conhecimento e desapego; avanço e calma; aniquilação do Ego e passagem pelo derradeiro Abismo. Medo, Morte simbólica e real, Renascimento. Eis o sacro ofício, o que costumamos chamar de sacrifício.
Tendo tudo isso diante de nós, podemos entender que a Era de Aquário nos traz a importante missão de canalizar as águas piscianas da Inspiração para o bem de toda a Humanidade, sob os auspícios do regente aquariano, Urano, símbolo feminino de Sophia, a Sabedoria Invencível da Criação.