Líquido, por se esvair pelo ralo do chuveiro ou sumir em meio ao barulho de uma balada noturna; e doce, como uma champagne francesa, plena de ilusões entre suas bolhinhas que nos fazem cócegas no Ego. O Amor Líquido é a expressão que distingue esta era de imbecilidade.
Em seu livro, Amor Líquido, o filósofo Zygmunt Bauman analisa a fragilidade das relações amorosas (entre seres humanos) na atualidade. A ausência de foco e da capacidade humana de entrega-se faz das pessoas da atualidade seres indecisos, medrosos e fechados em si mesmos. O medo é narcisista, em essência. O orgulho narcisista não advém da coragem, mas do medo de que o Mundo deixe de manifestar sua imagem no Lago. Assim, Narciso permanece com sua imagem no mesmo Lago como se tivesse algo mesmo à mão.
As pessoas não arriscam por medo de perder algo, algo que nunca tiveram de verdade. É justamente por pressentirem a inconstância da Vida, e não a aceitarem de pronto, que elas se apegam ao Passado, ao que pensam ser e ter. O Amor que arrisca tudo, numa apoteose do herói, tornou-se quase estupidez insana aos olhos do ser humano matematicamente previsível.
Quem vive com medo, não tem — nem jamais terá — tempo para amar.
(Ebrael)
A lucidez pode, sim, esfriar a loucura que é o Amor que dá tudo de si por um sonho. Porém, a mesma lucidez também nos adverte que a segurança advinda da prudência é transitória, pois, embora sendo a Natureza perfeita, está também em constante transformação.
Talvez, a verdadeira lucidez esteja em sabermos que o Amor, sendo líquido e corrente, passageiro pela Vida, também existe em algum lugar além do horizonte. Talvez, a loucura não esteja em lançar-se, numa carreira louca, ao Amor para além do por-do-sol, mas em alcançar a perfeição do Ser na posição de Narciso ao Lago, estagnado e em ilusão perpétua.
Se o Amor for uma ilusão, ao menos, move-se para outros estágios, em rios ou taças de vinho. A Vida sem riscos pode ser tranquila, mas talvez não o seja tanto quanto a estadia perene, em túmulos suntuosos, dos mortos que não podem mais voltar.
Apaziguados, mortos, pela irredutibilidade do Tempo; atormentados pela banda que passa, pelo rio que corre para o Mar e pela lápide fria, povoada por limo fétido. Assim, seguem os que se arrependem por arriscar e os que são atormentados pela coragem dos que arriscam.
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