Sabemos que nossa vocação é sair da Caverna, vencer o medo e contemplar a Luz por meio da qual nada fica oculto. Acaso, será por alguma debilidade de nossa espécie que falhamos na busca pela Luz, ou por confundirmos medo com apego (à escuridão da Caverna)?
O que é a Caverna?
À luz do que nos conta a alegoria homônima de Platão, a Caverna seria a estrutura produtora de ilusões (sombras) em que vivemos, alimentada pelas informações de nossos sentidos físicos e os equívocos decorrentes delas.
Alegoria da Caverna:
Criada por Platão para ilustrar o estado de ignorância inerente à espécie humana e o apego, da parte dos mesmos humanos, a ele. (Mais: Wikipedia.)
Por sermos seres ditos sublunares, nos apegamos às emoções como se estas fossem fontes de sabedoria e felicidade, não atinando nós que elas geram vícios (necessidades que, quando satisfeitas, renascem e criam vínculos entre o necessitado e a fonte de satisfação). Analogamente ao mito da Hidra, nossos vícios só serão exterminados quando confrontados com o espelho da Verdade (Luz), por mais doloroso que possa vir a ser esse processo.
Sobre as Sombras
Quando falamos das sombras, não nos referimos ao reflexo sem luz dos objetos, que anima nossas retinas, mas às imagens criadas e impressas em nossas mentes atreladas aos desejos de fruição física e outras necessidades.
Ou seja, a mente, equipamento criativo, destinado ao entendimento das causas e efeitos, acaba se deixando levar, em nosso caso, pelas necessidades e desejos. Resultado: as imagens nos levam a equívocos, não raro graves. Mais: tais imagens são tomadas como reais, embora saibamos, perfeitamente, que são elas impermanentes.
Sofrimento
Vivemos em função da satisfação de nossas necessidades, sejam elas imediatas ou de longo prazo. Lutamos pelo que sabemos que vai acabar; cedemos ao que pensamos ser rico em felicidade e gozo. O sofrimento, na forma de ansiedade, advém da constatação de que nada, seja fácil ou difícil, permanecerá. Por isso, ao constatarmos que tudo é transitório, chafurdamos na fruição das coisas enquanto essas durem.

Procuramos perpetuar o prazer do que fazemos ou fruímos. Refinamos nossos gostos, nosssssa estética, diminuímos o ritmo de nossa rotina. Porém, o Tempo não para. Não importa o que fazemos para vivermos da melhor forma: tudo acaba, um dia. Ao menos, nesse mundo. Se nossas Consciências sobreviverem em outros mundos, já não seremos os mesmos, nem faremos os mesmos questionamentos. O que fazer, então, para evitar o sofrimento e a frustração?
A Luz e seu tédio
Poderia dizer eu que a solução para evitar a frustração é conhecer suas causas e evitá-las, então. Porém, o gozo está, justamente, na sensação de perenidade do mesmo. A frustração por pressentirmos seu fim vem, somente, após algum tempo. Após isso, o apego, em reações análogas à síndrome de abstinência por drogas, insiste em nos manter no mesmo vício ou nos impele a buscar outra fonte de gozo.
Ao sermos iluminados pela Luz da Razão, que destrói todas as nossas ilusões (mas que, como efeito colateral, acaba com nossa capacidade de realizar), nenhuma doce ilusão é capaz de nos fazer suportar uma Vida mortal.
Podem nos acontecer duas coisas, neste estágio:
- Sermos acometidos com tédio irremediável, ou;
- nos afundarmos, voluntariamente, em mais e mais vícios, no desespero do bêbado que sucumbirá às vagas da Vida.
Você saberá que água no deserto, provavelmente, parecerá miragem ou será real. Em ambos os casos, sendo a água um prazer no meio do deserto, você sofrerá por ela. Sofrerá pela frustração e desespero, se ela for apenas uma ilusão; mas, também, se ela for real, pelo apego e medo de a perder ou de que ela se esgote.
No fim das contas, tudo não passa de um sonho. Por ser o ser humano criado para ser feliz e entorpecido, em meio às ilusões e suas crenças, o mesmo foge da Luz como o mítico diabo da Cruz. Aliás, o próprio e mítico diabo é uma alegoria perfeita do ser humano atual, teimando em seu apego ao que é pó, sendo ele pó e a pó voltando.
Por fim, retornamos à Caverna, esse inferno interior de nossa cegueira. O sofrimento acaba quando finda a Consciência. Enquanto houver Esperança, haverá Vida e, por isso, sofreremos por ela, eterna enquanto dure. E, aprendi, eterna é a Escuridão e o Caos, pois a Luz é quase mito. A Vida é quase real, imediata, um jogo maluco de algum Programador universal.
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