Diante da completa banalização da Magia, a Vera Scientia, sem falar das bizarrices trazidas pelos miasmas mentais desta era de trevas, é de suma importância o interdito contra os profanadores, curiosos, feiticeiros e charlatães, lançado pelo mais célebre ocultista e mago da Tradição Ocidental do século XIX, Eliphas Levi, em sua mais fundamental obra, Dogma e Ritual de Alta Magia, que citamos abaixo.
Segue:
O homem que é escravo das suas paixões, ou dos preconceitos deste mundo, não poderia ser um Iniciado. Ele nunca se elevará enquanto não se reformar. Não poderia, pois, ser um Adepto, porque a palavra Adepto alude àquele que se elevou por sua vontade e por suas obras.
O homem que ama suas idéias e que teme perdê-las; aquele que teme as verdades e que não está disposto a duvidar de tudo, antes do que admitir qualquer coisa ao acaso, esse deve fechar este livro, que lhe é inútil e perigoso. Ele o compreenderia mal e ficaria perturbado. Mas, ficá-lo-ia muito mais se, por acaso, o compreendesse bem.
Se estiverdes presos a alguma coisa do mundo, mais que à Razão, à Verdade e à Justiça; se vossa Vontade é incerta e vacilante, quer no bem, quer no mal; se a lógica vos espanta; se a verdade nua vos faz corar; se vos sentis ofendido quando apontam vossos erros, condenai imediatamente este livro, e, não o lendo, fazei como se não existisse para vós. Porém, não o difameis como perigoso: os segredos que ele revela serão compreendidos por um pequeno número. E os que os compreenderem não os revelarão.
Mostrar, em plena noite, a luz aos pássaros é ocultá-la, pois que ela os cega e torna-se para eles mais obscura do que as trevas. Falarei, pois, claramente. Direi tudo e tenho a firme confiança de que só os Iniciados, ou os que são dignos de o serem, lerão tudo e compreenderão alguma coisa.
Há uma verdadeira e uma falsa ciência, uma magia divina e uma magia infernal, isto é, mentirosa e tenebrosa; temos de revelar uma e desvendar outra; temos de distinguir o mago do feiticeiro e o Adepto do charlatão. O mago dispõe de uma força que conhece; o feiticeiro procura abusar do que ignora.
O diabo – se é permitido num livro de ciência empregar esta palavra desacreditada e vulgar – o diabo se dá ao mago e o feiticeiro se dá ao diabo. O mago é o soberano pontífice da natureza; o feiticeiro não passa de um profanador. O feiticeiro é para o mago o que o supersticioso e o fanático são para o homem verdadeiramente religioso.
(Capítulo 1, p. 16.)
(…)
No caminho das Altas Ciências, não convém empenhar-se temerariamente. Mas, uma vez a caminho, é preciso chegar ou morrer. Duvidar é ficar louco; parar é cair; voltar para trás é precipitar-se num abismo.
Vós, pois, que começastes a leitura deste livro, se vós o compreendeis e quereis ler até o fim, ele fará de vós um monarca ou um insensato. Quanto a vós, façais deste volume o que quiserdes. Não podereis, no entanto, desprezá-lo nem esquecê-lo. Se sois puro, este livro será para vós uma luz; se sois forte, ele será vossa arma; se sois santo, será vossa religião; se sois sábio, ele regulará a vossa sabedoria.
Mas, se sois malvado, este livro será para vós como que uma tocha infernal. Ele despedaçará vosso peito, rasgando-o como um punhal; ficará na vossa memória como um remorso; encherá vossa imaginação de quimeras, e vos levará, pela loucura, ao desespero. Procurareis rir dele, e só podereis ranger os dentes, porque este livro é para vós como a lima (da fábula) que uma serpente tentou morder e que lhe quebrou todos os dentes.
(Capítulo 1, p. 19.)
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