Neste ensaio, versarei sobre pensamentos meus acerca da Dualidade, da estimulação contraditória e como vejo ocorrer a forja de mentes escravas do que chamamos Destino.
Muito embora eu não ache que possamos ser, de fato, livres (ao menos, não em sentido absoluto), julgo necessário que compreendamos os mecanismos que atam nossas mentes à cadeia dos acontecimentos. Preliminarmente, quero esclarecer que não entendo a mente humana como uma instância representante de uma essência verdadeira, mas como algo criado, por certos mecanismos desconhecidos, para executar como que uma encenação, ou, em linguagem computacional, um programa de experimentação lógica. A isso, chamam evolução das almas.
Algumas pessoas religiosas poderiam, poeticamente, falar sobre o mítico Paraíso como um local maravilhoso onde “o Sol nunca se põe”. Ora, o Sol ilumina o Dia, enquanto sua ausência causa a escuridão, ou Noite. Nas entrelinhas, o Céu dos cristãos seria um reino onde não há dualidade e, por isso, nem atividade, nem repouso (que se faz notar pela cessação das atividades). Acaso, a unicidade é melhor que a dualidade?
A um cão, damo-lhe comida, a melhor e a que ele preferir. Após algumas semanas, começamos a bater-lhe no focinho, de leve, quando ele se aproxima do pote de comida. Ele se acanha. Em seguida, lhe afagamos a cabeça e lhe entregamos a comida, para que se acalme. Não muito depois, começamos a espancar-lhe para que não coma. Quando ele ameaça rechaçar as agressões, lhe damos choques elétricos. Logo, ele estará condicionado a não se aproximar mais da comida para não ser castigado, mesmo padecendo de extrema fome.
É assim que poderosos tratam as massas, e dessa forma que os escravos se reconhecem como tais. Privados dos meios de autodeterminação e de satisfação de seus desejos mais básicos, ou se rebelarão, dando as razões a calhar para que sejam castigados (admitindo, mesmo, serem merecedores de punição), ou se alienarão em grupos, nos quais, sob as esmolas de seus donos, se contentarão com qualquer atividade que lhes anestesie a dor por serem gado em um pasto sem cercas.
O mundo sem fronteiras é exatamente isso: um pasto sem cercas. Não comerão, apenas engolirão ração, enquanto, como patos ouvindo sinfonias de informações inúteis, pensarão ser cidadãos do Mundo, do único mundo possível. Lutarão batalhas que não são suas. Pensarão libertar-se, querendo voar como um pássaro que nasceu na gaiola. Ora, o que acontece a um canário que, nunca tendo visto um outro semelhante voar, saia pela portinhola de sua gaiola?
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Todos os comportamentos são condicionados: a) por desejos; b) pelos traumas e medos decorrentes; c) pela doutrinação; d) pela herança genética; e) pela força de arrasto dos grupos.
A fabricação de escravos se dá, principalmente, pela sutil chantagem utilizada na estimulação contraditória.
Como no caso hipotético do cachorro, o opressor submete o “candidato” a situações e opções contraditórias, forçando-o a escolhas que, por si mesmas, causam reveses. Quando o cachorro avança sobre a comida, ele apanha; se ele entende e aceita a ameça, padece de fome. Daí em diante, o cachorro se tornará um ser passivo, privado da mínima autonomia. Não mais será “necessário” apanhar, após um tempo, para que espere, docilmente, seu dono lhe dar comida (ou lhe bater, quando o cachorro parecer menos atento aos comandos). Um cachorro zumbi emergirá, então, pois sua memória ficará restrita ao canil, ao dono (um tirano benevolente) e à ração escassa que lhe é concedida sob espancamentos corriqueiros.
O mesmo acontece com os seres humanos, pois estes também são animais. Sua faculdade racional foi atrofiada pelas experiências extremas, fixadas em sua herança genética, causadas pela dor e pelo prazer, perseguindo um e fugindo de outra. A luz negra de Saturno, o cobrador do tempo, dono do jogo e juiz da banca do Destino, planta e ceifa mentes humanas escravas de sua Lei. Pela tentação e consequente punição, prende o homem à lembrança intensa da transgressão e ao trauma severo da punição.
Eu pensei muitas situações, mas especialmente o que vivemos atualmente no país. Tem momentos que não compreendo comportamentos, mas é fácil perceber que indivíduos foram doutrinados e não importa a classe social nem idade. Foram pegos e ficaram cegos.
Quanto o futuro da humanidade, muitas vezes lembro de um ”Admirável Mundo Novo”. Parece que muitas páginas são atuais.
Abs
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Huxley profeta! Ou arauto dos Donos do Mundo? 😉
Abraço, Simone!
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Fiz meu TCC baseado nessa obra, em paralelo com o Ativismo Judicial, justamente por isso. A forma como as decisões judiciais são condicionadas a neutralidade (inexistente, em sua maioria) dos julgadores, e a forma como tudo está pré condicionado ao sistema.
Essa obra é mais atemporal que nunca. E é triste pensar que estamos vivendo isso.
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Não sei se é triste viver isso. Mas, é desagradável. Digo que não sei se é triste porque a Verdade é o que é. Procuramos sempre o que nos agrada e deploramos o que nos faz sentir mal.
A balela começa com: “Todos são iguais perante a Lei”. Já falei disso em outra postagem. Não. As pessoas não são iguais em canto algum, em tempo algum. As pessoas são justificáveis mediante seus atos individuais e coletivos. Elas podem ascender por seus méritos, pela ajuda de outros (como nós), mas nunca serão iguais. Isso é uma falácia.
A sociedade é dita profana por isso. Ao expor sua conduta, profana-se a intimidade da essência. Por isso, o pudor e o decoro, mesmo fingidos, devem ser preferidos não pela pretensa obrigação de sermos transparentes perante os “outros” – o que é absurdo, tendo em vista o totalitarismo implícito -, mas como medida de proteção e para evitarmos a degradação pelos olhares alheios. Sim, estamos em constante interação com os “espelhos” (os alii, “outros”) e precisamos nos proteger, de vez em quando.
Huxley, profeta ou arauto da Elite, não importa o que foi. Em Admirável Mundo Novo, ele fulminou-nos com aquele temor de que suspeitávamos, mas que a sociedade não queria ver: de que sempre fomos escravos acéfalos e sem direitos.
Ebrael.
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Em relação à Verdade, devo dizer que concordo até certo ponto, realmente procuramos sempre o que nos agrada e deploramos ao que nos faz sentirmos mal. E nesse momento é importante entender e praticar a empatia, pois entender o outro, é importante. Principalmente ao reconhecer o que não nos faz mal, pode fazer mal ao outro, e entender e aceitar nos torna seres sociáveis.
A hipocrisia da sociedade ao ditar o que é certo ou errado, em sua maioria está centrada na visão particular do que seja certo ou errado, e dessa forma, eu realmente concordo, porque não sabemos se estamos sendo induzidos por essa ação ou omissão, ou se estamos realmente certo. A questão é complexa e extremamente paradoxal.
Com isso, por exemplo, ditam sobre o amor, que só é correto ao ser associado à monogamia, porém a traição é de praxe e o poliamor é vexatório.
O totalitarismo implícito é tão gritante, que só não vê quem não quer ou é leigo sobre o assunto e o aceita como a forma correta de ser.
A liberdade que temos é a mesma do cachorro que você cita, ela é permissiva e burocrática, apenas convém quando é delegada pelo poder Maior.
Ótimo conversar com você! O bom da distancia que a internet nos mantém é o tempo da conversa, cada um escreve e o outro lê, tudo com muita organização e educação.
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