O mundo passou da hipocrisia leve ao fingimento teatral. E todo mimimi é teatral e narcísico. É certo que, para manter uma convivência social sem precisar usar armas de fogo, o sujeito precisa usar de certo fingimento; mas, apenas circunstancial, não em tempo integral (inclusive, durante o sexo).
É desta forma que a corrupção é normalizada e homologada pela maioria democrática, afinal. A reação indignada do povo à roubalheira, em geral, é apenas teatral, pois, em certa medida, podemos ver que o cinismo do político ressoa no comportamento cotidiano do miolo das massas.
O corrupto, antes de tomar o que não é seu, se certifica de que ninguém esteja olhando; ou, se alguém estiver olhando, lhe oferece parte do espólio.
Igualmente, age aquele porcalhão que, ao ver uma quantidade de batata frita cair, da mesa, no chão, especula em torno de si para saber se alguém o observa. Se não, cata a batata do chão e come sozinho; se sim, é capaz de oferecer um porção da batata.
O horror à corrupção é, na maior parte das vezes, reflexo da vergonha autoexplicativa. É como o nojo, que parece mais indignado quanto mais pessoas estiverem observando.
Num assalto de uma tentação, o nojo desaparece, surgindo o impulso à sujeira, à mácula, como uma pulsão de morte, que, primeiramente, arrasta os sentidos e, em seguida, liquidifica a Razão.