Há anos que venho ensaiando o salto final para a independência pessoal na internet, com vistas a preservar a privacidade, algo tão depreciado hoje em dia, além de promover essa necessidade entre meus amigos e leitores. Pois, eis que sigo e, creio eu, desta vez conseguirei avançar nesse ideal. Vejamos o que tenho a recomendar a todos.
Não vou me delongar, descrevendo tudo o que deixamos, em dados, exposto para ganhos financeiros de uns (Google, Facebook, Microsoft, Yahoo, entre outros) e controle da atividade da massa pelos órgãos de inteligência dos governos. Tudo, absolutamente tudo, que fazemos, escrevemos, compramos ou por onde andamos, é registrado nos servidores corporativos e governamentais.
Esse avanço contra a privacidade teve início com o crescimento do uso dos cartões de crédito. Depois, vieram os aplicativos móveis, os registros de IPs de nossa navegação na internet, os históricos de localização e pesquisas nos mecanismos de busca. Hoje, desde o instante pelo qual você passa na roleta do metrô (registrado em seu cartão de Vale-Transporte ou Bilhete Único) até o picolé que você compra na sorveteria, seus passos são rastreáveis pelo Governo e pelas corporações.
Ameaças
Pode ser que você ache que suas mensagens não carreguem nada de comprometedor. Mas, esse não é o problema. O problema é não se importar que estranhos possam saber tudo de você, o que você escreve e com quem você fala, como se estivéssemos todos, literalmente, sob tutela.
A liberdade passa pela proteção contra ameaças, mesmo as não declaradas, e essa proteção à liberdade deve ser garantida pelo Estado em ambiente público e privado. No ambiente público, o Estado deve manter a ordem pública; quanto à Vida privada de cada um dos cidadãos, ele deve assegurar a privacidade.
Não, o Estado não pode transformar em regra a violação de privacidade, nem utilizar-se de empresas privadas para solicitar, ao bel prazer dos agentes políticos, informações sigilosas acerca dos cidadãos. Não, o Estado não deixa de ser uma ameaça quando ele nos trata como prisioneiros ainda mais vigiados que os condenados. Ele nos ameaça quando, sabendo nós que ele conta com aparelho repressivo, invade nossa intimidade.
A Saída
Precisei deixar a comodidade de lado e empreender uma reforma completa nos meus hábitos virtuais, me abstendo das redes sociais inúteis, e adotando medidas um pouco mais rígidas de segurança. Após tantos escândalos de vazamentos de dados dos usuários do Google, do Facebook, do Twitter, da Microsoft, etc., sugiro:
- Adotar um ou dois provedores de e-mails seguros que utilizem criptografia, de verdade, de ponta-a-ponta, migrando os acessos de contas e serviços online para eles (sugiro Tutanota e, mais atrás, Protonmail);
- Abandonar, gradualmente, Gmail, Outlook/Hotmail e Yahoo (bem como seus serviços de pesquisa, armazenamento, notícias, fotos, etc.), não esquecendo de apagar todos os dados nas configurações de conta (principalmente o histórico de localização, dados de pagamento, endereço, compartilhamento de local, senhas gravadas, etc.);
- Passar a utilizar serviços de pesquisa que respeitam a privacidade do usuário (DuckGoGo é uma boa opção);
- Evitar Google Chrome, Microsoft Edge e Safari, adotando um navegador que também respeite a privacidade, com bloqueio automático de anúncios, VPN gratuita, bloqueio de rastreamento, etc. (sugiro Ópera para desktop e DuckGoGo como browser móvel);
- Abandonar Facebook, Instagram e, se possível, Twitter;
- Abandonar mensageiros instantâneos tradicionais (Whatsapp, Skype, Telegram, Messenger), mesmo aqueles que dizem garantir criptografia de ponta-a-ponta (sugiro Signal como alternativa reconhecida);
- Transferir seus arquivos em armazenamento de nuvem para outros serviços, como Mega.nz (sim, Mega.nz, menos inseguro que Google Drive, Onedrive, 4shared e Box);
- Desativar todas as extensões desnecessárias no navegador (desktop e móvel);
- Familiarizar-se com o uso de criptomoedas, guardando-as como ativos digitais que deverão substituir, em breve, o dinheiro comum, quebrando o domínio dos bancos sobre nossas vidas.