As questões do Paradoxo de Epicuro, filósofo grego, propõem análise do problema do Mal e da suposição da existência de “Deus”. Foram muito debatidas por teólogos e ateus em muitas épocas. É sobre elas que faço alguns apontamentos a seguir.
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De antemão, devo alertar que considero tendenciosas as questões mencionadas, para não dizer infantis. Elas contestam a imagem de um “Criador” essencialmente antropomórfico. Se você não sabe se Deus existe, ou não, na hipótese de ele existir, você não pode responder, em detalhes:
- Por que ele existe? O que é existir (e a diferença conceitual entre existir e subsistir)?
- Se existe, ele existe de per si, ou não (quis, ou não, existir)?
Se ele existe espontaneamente, ele não quis existir conscientemente. Logo, o conceito de volição (Vontade), do mais baixo ser (humano) ao mais excelso, se torna fluído e incerto.
O conceito de onipotência e onisciência, levando-se em conta uma essência unitária (ou seja, quando tudo está na Unidade, que é a Essência), não é relativo à Vontade, mas à escala. Se não exposta à Dualidade interior, como os seres humanos, a Unidade não pode escolher coisa alguma, pois todas as opções e possibilidades estão contidas nela.
Assim, o Bem e o Mal serão conceitos puramente subjetivos para aferição de dados relativos a prazer e dor, preenchimento e vazio, etc. Na Unidade, o único Bem é a plena Presença da mesma em tudo, que é Ela mesma, e não favorecimentos. Ou seja, na Unidade, o que é Bom é aquilo que ela é, independente do que seja, de fato.
Qualquer coisa, que esteja na Unidade, é parte dela e participa de sua Subsistência e do Destino da Substância emanada dela.
David Hume (1779) postula, em seus Dialogues concerning Natural Religion:
“O poder [de Deus] é infinito: o que quer que ele deseje, é executado. Mas nem homem, nem qualquer outro animal, é feliz. Portanto, ele não deseja sua felicidade. Sua sabedoria é infinita: ele nunca erra em escolher os meios para qualquer fim, mas o curso da natureza tende a ser contrário a qualquer felicidade humana ou animal. Portanto, não é estabelecido para tal propósito. Através de toda a história do conhecimento humano, não há inferências mais certas e infalíveis do que estas. Em que ponto, portanto, sua benevolência e misericórdia lembram a benevolência e misericórdia dos homens?”
Quem “assume que não sabe” é agnóstico, não ateu. Um ateu, sempre, e enquanto isso, dirá que não há um Princípio Criador Inteligente (ao qual convencionou-se chamar Deus).
Na verdade, todos os seres humanos deveriam, na origem, declararem-se agnósticos, dada a ignorância essencial de todas as áreas do Saber humano, quanto a qualquer coisa transcendente aos sentidos físicos, experimentação ou dedução lógica básica.
Neste caso, é conceito humano. O ser inteligente necessita de dados inteligíveis. Não considero um suposto Criador mais inteligente que um homem do Neolítico.
Deus, para mim, é a Lei, princípio de princípios, que gera, de si mesma, Ordem em todos os fenômenos universais, seja no espaço-tempo, seja além. Não há nada acima d’Ele porque nada, num dado sistema manifesto, pode estar acima daquilo que descreve e que ordena o mesmo sistema manifesto.
Toda tentativa de extinguir a Ordem da Natureza, ou do Universo – chamada de Divindade, pois que superior a tudo – incorre em anarquia do Sistema. Isso é logicamente inviável.
Ainda: se a concepção de Deus fosse antropomórfica, então, sim, eu também seria ateu. Não há um Criador Universal tal qual as religiões judaico-cristãs preconizam. Se o Princípio Criador tiver o homem como sua obra-prima, então eu prefiro ser ateu.