A Alegria da Presença


A Consciência advém do casamento entre a Luz e as Trevas, entre a água e o copo vazio, entre a chuva e a terra sedenta. É dessa Consciência que surge a invencível Vida do Universo, dos vermes famintos às estrelas. O que seria de nós sem essa presença efêmera, sem essa Shekhinah que renova todas as coisas?

Não precisamos nem tomar a água, nem deixar de beber. Por essas entrelinhas, esse interstício, esse copo meio cheio, meio vazio, é que buscamos o Caminho do Meio.

Essa reflexão me veio ao chegar em casa, vindo do trabalho, nesta noite, e notar a ausência do Bandido, o gato vadio, sem raça definida, que nos visitava todos os dias em busca de comida e companhia. Era folgado, briguento, mas se acalmava ao sentar e adormecer na cadeira, ao lado da minha, na área de serviço.

O Bandido era igual a toda Vida, com ânsias instintivas semelhantes às nossas: alimentar-se, reproduzir-se, abrigar-se, conhecer o mundo ao redor. Não era castrado e vivia espirrando pelas vezes em que, indômito, vadiava pela vizinhança nas madrugadas chuvosas de minha cidade.

Mas, não mais virá o Bandido. Eu sinto que ele não mais virá miar alto como dono do terreno, exigindo comida e atenção. Silêncio total. Anabellie, minha gata siamesa adotada, perdeu seu namoradinho impossível (já que ela é castrada), com o qual vivia entre arranhões e cenas de ciúme.

Sentir a falta é como doer-se pela lâmpada queimada, seja de um objeto, de um ente querido ou de um irmão menor (um animal de estimação). Bandido era livre, embora fosse prisioneiro das necessidades mais básicas; era chato, embora companheiro. Era vivo, mas não mais presente. E é a alegria da presença que dá sentido a esta Vida, esta que é a própria presença sensível do Espírito de Deus.

Mas, sabemos todos, o Espírito de Deus, sendo livre, não nos deixa, em momento algum, como o Noivo que, embora invisível no meio da Noite, deixa-se achar em todos os cantos e momentos.

Que nós – pobres de nós! – possamos estar com o Coração, templo da Alma, pleno de gratidão por todas esses vaga-lumes que cintilam em nossas Vidas!

Por Júlio [Ebrael]

Blogger, amateur writter, father of one. Originally Catholic, always Gnostic. Upwards to the Light, yet unclean. // Port.: Blogueiro, poeta amador, pai. Católico, casado. A caminho da Luz, mas sujo de lama.

Deixar um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

%d blogueiros gostam disto: