Eu já senti falta de alguns lugares, muito mais pela surpresa que os ambientes desses locais me causaram do que por qualquer contra coisa. Geralmente, por não sabermos muito sobre algum lugar, dizemos ou pensamos qualquer coisa para fazer de conta que sabemos algo.
O fim de semana nos traz duas coisas, entre outras: descanso e a tentativa, ainda que inútil, de se livrar das preocupações, dos problemas, estresses e da ansiedade. Normal! Ou não?
Sim, no início da próxima semana de trabalho, não vou querer me concentrar. Ao contrário, vou buscar a dispersão, perseguir o relaxamento e voltar às origens, irrompendo em meio ao Oceano de sonhos. Quem sabe, eu logre alcançar a boa praia de uma tal ilha deserta, à qual costumo chamar de Cristália, uma terra perdida no canto de minhas memórias de adolescente tardio, onde os raios do Sol se refletem nas calmas águas da enseada como que perpassando um prisma. Sim, minha memória é tal qual essa taça transbordante de cristal genuíno e translúcido.
Sei que muitos dos leitores não entenderão a razão desse “sonho” do qual falarei. Até mesmo poderão rirem-se dele. Mas, principalmente, alguns sonhadores “malucos” aqui se identificarão comigo. Como milhões de crianças e adolescentes dos anos 80 e 90, eu sonhava em ser astronauta. Não é que os adultos não entendam esses sonhos de crianças; simplesmente, eles sabem que, até a consecução de um sonho, há milhas e milhas em dificuldades, quedas e recomeços. Em muitos casos, levantamos e mudamos de caminho. Adotamos sonhos mais sóbrios.
Posso parecer, por vezes, ora idealista, ora saudosista. Tanto naquele caso como neste, a Razão acaba cedendo ao mito, ao sonho, ao desejo de que as coisas voltem, por um passe de mágica, a ser como eram outrora. Logicamente, as coisas, como eram, deviam a uma certa conjuntura de fatores sua razão de ser que jamais se repetirá. À época em que algumas coisas valiam, havia uma identidade que representava certos ideais. Essa identidade, junto com seus ideais, foi sufocada por um rolo compressor ideológico que matou parte da alma da maior parte das pessoas, mesmo do povo brasileiro.
Os casamentos voltarão a ter sua sacralidade reconhecida ou verterão seus restos ladeira abaixo de uma vez por todas? A educação de nossos filhos retornará ao idílico sonho clássico ou estará sujeita a ditames psicóticos de uma ideologia assassina, travestida com os trapos da “justiça social”?? Se havia hipocrisia nos tempos do Império quanto ao ideal da educação da elite, hoje tal hipocrisia se manifesta nas promessas de uma formação integral para os menos favorecidos, porém não espelhando-se no que havia de bom, mas na impraticável convivência de princípios imorais com o objetivo do desenvolvimento educacional.
Colégio Pedro II, atualmente. Rio de Janeiro, RJ.
Para exemplificar o dito acima, transcrevo, a seguir, um trecho da aula inaugural do Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, também chamado, à época do Império, deImperial Collegio. Tal pronunciamento fora proferido pelo Ministro de Governo imperial na época da Regência de Araújo Lima – a saber, Bernardo Pereira de Vasconcelos – aos 2 de dezembro de 1837, data do aniversário de D. Pedro II.