De Beatitudine


— Sobre a Felicidade.

À pergunta sobre como ser feliz, todo mundo tem sua receita a apresentar. Quando são bem-sucedidas em seus projetos, pessoas ufanam-se por terem, supostamente, encontrado seu elixir mágico, seu pó milagroso ou seu estilo de vida perfeito.

Será, mesmo, que tais pessoas são felizes? Abaixo, exponho minha visão sobre o que é a tal felicidade.

Os olhos governados pela Vontade


Quando queremos algo, verdadeiramente, queremos com fogo nos olhos!

A pessoa que quer algo, que é alguém de querer-querer, faz cara de mal para afugentar os maus espíritos, cara de quem exige respeito e ameaça o Destino que tenta nos impedir de prosseguir. Quem quer algo, arromba a porta, depois é que pergunta de quem é a casa. Não pede licença, senta e pede almoço. Levanta e prepara o jantar. Espanta os ratos e baratas com seus passos e faz recuar o Cão raivoso com seu grito viril.

Os olhos daquele que deseja algo são como brasas vivas. Suas lágrimas não apagam as chamas, mas atiçam-nas ainda mais. Suas veias pulsam no ritmo estranho que a Vida nos impõe ao nos perpassar os nervos, senão fortes, mas ainda conectados ao Destino. Sim, o Destino é uma estrada ameaçadora, própria daqueles que têm vontade de correr. Andar é para quem tem tempo. Nós, os desejosos, não temos tempo a perder, sendo gigantes valentes ou pequenas borboletas.

Algumas pessoas confundem ser amigo do Destino com ser-lhe escravo. Não devemos ser, sob qualquer circunstância, escravos indolentes das contingências. Fazemos ajustes, nos acomodamos às contingências, e seguimos. Mas, lembremos: somos nós que estamos no leme. Deus é nosso Farol, não o Timoneiro. Ele nos orienta, mas não faz nosso trabalho. Não sejamos escravos nem permaneçamos à deriva para sempre. Sejamos nós os amigos de Deus, não seus soldadinhos de chumbo.

Mars et La Petite.

(Os créditos vão para La Petite Muse Flamboyante, que me visita sempre quando estou em situações críticas.)

De Cupiditate (Sobre o desejo)


Em uma frase, eu poderia definir o objeto focado por este artigo da seguinte forma:

Desejo é a sensibilização operada pela Vontade na natureza dos seres.

Há dois termos que, em latim, significam, cada um a seu turno, a noção do que é o desejo:

A Alegria de Um é o Inferno de Outro


É sempre assim: tomar decisões que envolvam pessoas e sentimentos (incluindo a nós mesmos e nossos sentimentos) é vestir a túnica do algoz e empunhar o machado do carrasco!

A liberdade de escolha implica, muitas vezes, a arte de cortar a cabeça a um só golpe, o que nos qualifica ao título “honorífico” de carniceiros. Sempre, e a qualquer momento, muito frequentemente, somos chamados a escolher um caminho, tendo que conviver com a dúvida acerca do que teria sido caminhar pela outra vereda. A Razão fala: prefira o certo! O Coração grita: tente um novo caminho! E nós perguntamos por quê o certo é certo pra nós, e por quê o novo é novo…

Matamos uma opção pra fazer sobreviver outra; soterramos um projeto para reviver um sonho antigo. Cortamos a cabeça de Maria Antonieta para elevar os Jacobinos ao Poder Supremo de nossa fantástica revolução. Afinal, Maria Antonieta é inocente ou criminosa? Os Jacobinos nos salvarão da mediocridade ou nos mergulharão em terror noturno? Não há vencedores ou vencidos; há apenas preferidos e preteridos, e enquanto uns morrem em seus intentos, outros festejam triunfantes, sejam de qual lado forem. O Vencedor vence, e o vencido é renegado. Um aparece em seu brilho ofuscante de Eleito e o segundo é banido, então.

Carrasco de Sonhos
Escolher ou não escolher?? Decida e mate uma opção!

Não há bons samaritanos. Não há meio termo: a Vitória de Um será sempre um golpe na Vida do outro, a Alegria de um se tornará no Inferno do outro, tormento infindável até que renasça o Sol da Esperança.

Se retiro a ti a Esperança, e ela não morrerá jamais, é porque a certeza já cedo aparece, a certeza do Amor sem culpas, sem vencedores nem vencidos, o Amor Livre e sem peso inútil…

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