A Chuva e o Tempo

Certa vez, escrevi um texto para o Grömki-Ranur intitulado R Dotya Wanaäk (“A Criação é como a Chuva”), ainda não publicado. Da mesma forma como a pasta de dente não pode voltar (nem se quiséssemos) para dentro do tubo (pelo efeito da entropia), também a Chuva não pode tornar a escalar as nuvens pelo mesmo caminho, retrocedendo no Tempo.

Acaso, é forçoso que, independente das tais leis da natureza, a Chuva tenha que avançar sobre a Terra? Não reclama o Céu suas filhas, crias de sua umidade?

Conversa estranha esta, não? De tais conversas, que precisam acontecer, é feito este espaço. Ao mesmo tempo que o mundo moderno nos toma parte da vida como tributo ao sistema, nos fornece a possibilidade de refletirmos sobre o que parece ser emergente, ou seja, sobre o que está para acontecer, mas não acontece, ou sobre o que passou e parece se repetir.

É essa sensação incômoda de jamais conseguir captar a fotografia perfeita do momento, de pegar o coelho pelas orelhas, que pode nos levar à conclusão de que tudo o que passou e há de vir está, de fato, acontecendo agora, simultaneamente. Cada momento apenas parece validar, como efeito, uma causa ou evento prévio. Na verdade, essa conta é como 1 + 1. O que é estranho, para cada pessoa, é que as duas parcelas, embora sejam iguais, se mostrem diferentes.

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Cada seção de uma circunferência, você diria, é diferente da outra, mas apenas pelo ângulo de visão. A circunferência é a mesma, e cada ponto inscrito nela continua a ser equidistante de seu centro. O raio é o mesmo, embora a 90º se pareça com um i maiúsculo, enquanto a 0º imite um travessão.

O tempo é o mesmo, o ciclo é o mesmo. O total do tempo é sempre igual. Se há um tempo apenas, não há passado ou futuro, mas apenas este momento, este tempo, uma fotografia de um lampejo. Se único é o foco de luz, já se apagou esta; se eterno, então nada muda. Ou somos sombras do futuro que já aconteceu, ou sonhos de um passado não realizado.

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